Quando comecei a planejar as newsletters de final de ano, me dei conta de um fato tão curioso quanto irrelevante: uma delas seria publicada no dia 13 de dezembro, uma sexta-feira. O último mês do ano não nos daria tchauzinho sem antes nos entregar uma sexta-feira 13. Era uma oportunidade boa demais para passar batido.
Antes que você me pergunte, não, eu não sou supersticiosa. Bom, não de verdade. Ora, vamos lá, bater na madeira três vezes é, em muitos contextos, um gesto de empatia, uma forma de mostrar à outra pessoa que deseja o bem dela. Desvirar o chinelo não tem nada a ver com proteger as mães, é só uma questão de praticidade: gosto de deixá-los a postos para quando precisar colocá-los de novo. O quê? Eu não te convenci? Pois eu abro o guarda-chuva dentro de casa sem medo! Que tal essa agora?
Piadas à parte, minha fixação com a sexta-feira 13 se deve ao meu antigo costume de escrever fanfics divertidas sobre personagens azarados sempre que essa data se aproximava. Bateu uma saudade dessa época, sabe? Então eu fiquei pensando em temas para uma news comemorativa, mas não estava com vontade de fazer algo do tipo “13 filmes sobre azar para curtir nesta sexta-feira”. Nada contra. Apenas não é o tipo de conteúdo que quero trazer aqui.
A segunda opção óbvia era falar sobre as superstições de escritores famosos. Até cheguei a pesquisar exemplos. Tudo bem, o assunto é legal. Mas já falaram tanto sobre isso! Precisava de algo novo e instigante. Pensei, pensei. Daí, virei esse assunto de cabeça para baixo, e a ideia veio. Ahá! Vou falar sobre as superstições dos leitores!
Mas o que seria uma superstição do leitor? Um ritual adotado com base na crença de que torna a experiência de leitura mais imersiva, como preparar uma xícara de chá ou café — ou de chocolate quente, se for um dia frio? Uma mania sem qualquer sentido lógico, como organizar os livros na estante pela cor da lombada? Qual a diferença entre superstição e preconceito? Quando me recuso a comprar um livro só porque a capa é o pôster do filme estou sendo supersticiosa ou apenas preconceituosa?
Vou ser sincera, não consegui responder essas perguntas. Talvez as respostas não sejam tão simples. Então, adotei a única solução cabível no curto espaço de tempo do qual dispunha: perguntei a meus colegas escritores quais eram suas superstições, rituais e manias como leitores. A ideia era deixar que eles respondessem de forma bem livre. E, olha, foi uma experiência bem divertida! Vou compartilhar alguns dos resultados aqui.
Começo por minhas próprias superstições e rituais. Gosto de iniciar a leitura sabendo o mínimo possível sobre o enredo. Para mim, basta saber quem é o protagonista e em que lugar e época ele vive. O resto são detalhes. Às vezes, levo isso ao ponto extremo de ignorar a sinopse e partir direto para o primeiro parágrafo do livro. Se ele me pegar, eu tiro o cartão de débito da bolsa.
Outra mania é de tentar combinar o marcador de página com o livro, por nenhum motivo aparente. Se eu tiver o marcador do próprio livro, melhor ainda! Olha que lindo esse exemplar de Percy Jackson e o ladrão de raios acompanhado do marcador com a arte da capa. Se o match perfeito não for possível, tento escolher por proximidade: este aqui de Harry Potter serve para este romance de fantasia. Mania boba, né? Não é como se o mundo fosse acabar porque eu usei um marcador de culinária no 9º volume de Desventuras em série.
Para minha surpresa, não sou a única com essas manias. Uma moça me respondeu que tem o hábito de ler a epígrafe. Se estiver em outro idioma, corre atrás da tradução. Achei isso bem interessante, porque às vezes passo pela epígrafe sem perceber. Acontece muito quando leio no Kindle, devido à insistência da Amazon de pular toda a parte pré-textual e me jogar direto no primeiro capítulo quando abro um e-book.
Um rapaz comentou que só recentemente começou a sublinhar frases em seus livros, mas precisa usar marca-textos da cor predominante da capa, para não fugir do projeto gráfico. Ele mesmo ponderou que isso talvez seja uma mania obsessiva. Bobagem! Faz todo o sentido estético usar marca-textos que combinam com a capa. E digo mais: sabe aqueles marcadores adesivos usados para guardar as páginas com citações interessantes? Ora, é apenas uma questão de bom senso usar cores que harmonizam com a capa! Veja meu exemplar de Boas meninas se afogam em silêncio. Usei um marcador rosa para não destoar da cor do título.
O quê? Está me dizendo que isso é TOC? Estou francamente ofendida. Durma com esta, então: um dos colegas disse que só abre o plástico do livro na hora de ler, para preservar seu cheiro de novo. Nãnãnão, não me venha dizer que isso é preguiça. O cheiro de livro novo é sagrado para muitos leitores. Se acha que o exemplo anterior foi longe demais, veja este: “se for um livro novo, eu abro o livro e cheiro as páginas novas, geralmente no meio do livro. Não gosto que ninguém faça isso antes de mim. É um privilégio do dono e também um prazer que leitores do Kindle não terão”. Viu? Além de tudo, o direito de cheirar as páginas de um livro novo é inalienável!
Outra resposta que me divertiu bastante foi esta: “eu adoro ler com as pernas pra cima. Isso é ritual?” Olha, eu não sei, mas dei boas risadas. O conforto é uma parte fundamental da experiência de leitura. Fico imaginando quantas poses inusitadas as pessoas não inventam para ler suas obras favoritas. Você tem alguma pose inusitada? Hum, não mente pra mim!
Um dos colegas aproveitou a enquete para provar que é um leitor ávido e mandou esta: “Meu ritual, se é que pode ser chamado assim, é ler três livros concomitantemente: um no escritório, outro na cozinha quando todo mundo já dormiu, e outro no banheiro”. Uau! Eu não consigo ler mais de um romance ao mesmo tempo. No máximo, consigo conciliar um romance com um ou dois livros de contos. Se eu tento imitar meu colega, em poucos dias fico assim: gente, qual foi mesmo a reação da Hermione quando ela descobriu que os gêmeos eram filhos de Hades e eles tiveram que descer por aquele buraco de elevador enquanto o Conde Olaf levava adiante seus planos maléficos?
Depois desse relato, recebi outro mais factível: “quando sei que o livro é curto e a leitura pode ser rápida, eu me programo para ler de uma vez só, sem interrupções”. Aqui voltamos ao caso da xícara de café. Para muitos leitores, criar um ambiente agradável para a leitura é de suma importância. Eu também adoto pequenos rituais nesse sentido, como deixar o celular bem longe de mim, às vezes em outro cômodo, para não ser distraída pelas notificações. Se mantenho o celular por perto, normalmente é para escutar música enquanto leio. Me ajuda a me concentrar quando estou agitada.
Agora, para fechar o resultado dessa enquete informal e nada científica, apresento a minha resposta favorita de todas: “O único ritual que tô precisando fazer no momento é jogar meu cartão de crédito na fogueira para não comprar mais livros!” Eu te entendo totalmente, amigo! Vai ver também seja o caso de contratarmos um exorcista, pois tenho certeza de que, por várias vezes, os livros da livraria simplesmente caem nos meus braços sem eu nem perceber.